PPR - uma avaliação das vantagens e desvantagens

 


Os Plano de Poupança Reforma (PPR) são um dos instrumentos de investimento mais conhecidos e preferidos em Portugal. Um artigo do Eco indica que existem 19 mil milhões de euros investidos e mais de 2 milhões de subscritores.

 

Aspetos positivos

Os PPR têm à partida claras vantagens devido aos benefícios fiscais que apresentam. Em primeiro lugar, 20% das contribuições pode ser deduzida em IRS até um teto dependente da idade: até aos 34 anos uma dedução máxima de 400€, que implica uma contribuição de 2000€; dos 35 aos 50 anos inclusive uma dedução máxima de 350€, que implica uma contribuição de 1750€; dos 51 em diante uma dedução máxima de 300€, que implica uma contribuição de 1500€ - estes são os chamados benefícios fiscais “à entrada”. As deduções máximas passam para o dobro para casados.

Existem também benefícios fiscais quando se liquida o PPR, considerando que dentro das condições legais de resgate e após 5 anos de investimento se aplica uma taxa de imposto de 8% - benefício fiscal “à saída”. Estes benefícios contrastam claramente com os ETF que não tem qualquer benefício fiscal à entrada e são efetivamente taxados a 19,6% quando retidos por mais de 8 anos. Parece espetacular…. mas há uma serie de problemas.

 

Problemas


Benefício fiscal com teto

Apesar do benefício fiscal à entrada ser interessante, ele concorre com outras deduções (saúde, educação, etc.) na soma das deduções à coleta. Consoante o valore dos rendimentos de cada agregado existe um limite de deduções à coleta: sem limite abaixo de rendimentos até primeiro escalão (8509€ em 2025), entre 2500€ e 1000€ para rendimentos mais de 8509€ até 83 696€ (aplica-se uma a fórmula, 1000 + [(2500 - 1000) x [(83 696 - rendimento coletável) / (83 696 - 8509)]); 1000€ para rendimentos acima de 83 696€. Isto significa que pode não ser possível usufruir de todo o benefício fiscal – sobretudo para famílias com rendimentos mais altos e/ou muitas despesas de educação, saúde etc.


Rentabilidades historicamente baixas

Uma grande fatia dos PPR estão sob a forma de seguros PPR ou fundos de PPR com estratégias conservadoras, que têm rentabilidades baixas e que frequentemente não são suficientes para combater a inflação. A título de exemplo, nos últimos 5 anos a inflação anualizada correspondeu a 3,7%. OS PPR de níveis de risco 1-3 tiveram rentabilidades medias de 0.8%. Isto corresponde a um retorno real negativo de 2,9%/ano! Um dado que serve de alerta quanto ao facto de os investimentos conservadores não serem seguros a longo prazo nem, como se pode ver por este exemplo, no médio prazo.

Embora as rentabilidades médias dos PPR mais agressivos sejam mais interessantes (5,9%/ano nos últimos 5 anos) mesmo assim estão muito longe das rentabilidades dos ETF mundialmente diversificados – a título de exemplo um dos ETF mais populares, VWCE, apresentou uma rentabilidade anualizada de 9,6% no mesmo período. Mesmo escolhendo um dos PPR com melhores resultados, o PPR Save and Grow (Founders) da Casa de Investimentos, a rentabilidade anualizada foi de 9,01%. Parece uma diferença pequena, mas para investimentos a longo prazo tem um impacto grande: para um investimento de 30 anos, caso esta diferença se mantenha todos os anos, significa uma diferença rendimento acumulado de 233,87% - potencialmente dezenas de milhares de euros. Pode sem explorados mais dados neste outro artigo do Eco.

Esta diferença de rentabilidade entre os ETF e os melhores PPR tem algumas explicações.

 

O problema da gestão ativa.

Em primeiro lugar a maioria dos PPR são fundos de investimentos de gestão ativa. Isto significa que os responsáveis do PPR tentam obter a melhor rentabilidade possível selecionando os instrumentos financeiros (como por exemplos ações individuais) que acreditem ter o maior potencial.

A estratégia alternativa é a recurso à indexação ou gestão passiva, em que o responsável do fundo apenas replica um índice , ou seja uma lista de instrumentos financeiros (como ações) que pretende representar um determinado sector ou região geográfica. Por exemplo, os índices FTSE all world e MSCI ACWI são índices de ações que tentam representar os mercados de ações a nível global. Esta estratégia tende a ser mais simples e barata de implementar, pelo que os fundos de gestão passiva têm comissões mais baixas do que os de gestão ativa - sensivelmente 0,07-0,4%/ano vs 1-2%/ano.

O grande problema para os fundos de gestão ativa (como são grande parte dos PPR) é que em média, não apresentam rentabilidades superiores às dos fundos de gestão passiva mesmo antes de serem consideradas as comissões - ou seja no global a média dos fundos com gestão ativa não conseguem dar mais valor aos investidores do que uma simples estratégia passiva. Quando são consideradas as comissões a maioria dos fundos de gestão ativa fica abaixo dos fundos de gestão passiva - apenas 13,5% dos fundos europeus supera o seu índice de referência (o chamado benchmark). Este dado é o principal motivo pelo qual os ETF se tornaram tão populares pois são maioritariamente de gestão passiva.  

 

O problema da dimensão dos fundos de PPR

Existem, contudo, alguns PPR de gestão passiva como por exemplo, o PPR SGF Doutor Finanças e o PPR Golden SGF ETF – ambos investem de forma passiva incluindo ETF diversificados de ações e obrigações. Parece ser o melhor dos dois mundos – os benefícios da indexação / gestão passiva e os benefícios fiscais dos PPR. Contudo, as comissões anuais são mais típicas de fundos de gestão ativa: 1% anual + 0,75% por subscrição + 10% dos ganhos anuais para o primeiro e sensivelmente ~ 1 % para o segundo. Um dos motivos principais está relacionado com a dimensão dos fundos. Os ETF mais populares possuem milhares de milhões de euros investido o que lhes permite manter uma margem de lucro significativa mesmo com comissões baixas. Por seu lado, o PPR SGF Doutor Finanças tinha apenas cerca de 3,6 milhões de euros e o PPR Golden SGF ETF tinha 10,4 milhões de euros no fim de 2024 para se manterem rentáveis os fundos desta dimensão têm de cobrar taxas altas - quem perde com esta questão economia é o investidor/subscritor do PPR.

 

Liquidez

 Ao usufruir-se dos benefícios fiscais à entrada dos PPR está-se obrigado a manter o dinheiro até ser cumprido um dos requisitos para a liquidação do PPR de forma a não sofrer penalizações: a partir dos 60 anos (se PPR subscrito há mais de 5 anos); Desemprego de longa duração (> 12 meses); doença grave ou incapacidade permanente; falecimento do titular; pagamento de mensalidade de créditos habitação. Fora destas condições as deduções obtidas em sede de IRS têm que ser devolvidas com uma penalização adicional de 10% desse valor. Esta característica tem por objetivo “forçar” os subscritores a manterem-se investidos para a reforma. Contudo limitam a facilidade de acesso ao dinheiro investido. Os ETF por exemplo, não tem essa limitação podendo ser vendidos imediatamente sem penalizações.

 

Numa próxima publicação iremos perceber o impacto que estas vantagens e desvantagens têm na rentabilidade dos PPR e tentar quantificá-la.

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