Conceitos essenciais do Investimento: Risco vs Retorno
O caminho para começar a investir pode parecer estranho e complexo, o que muitas vezes pode ser desmotivador e levar a que se adie o seu início. Contudo, acredito que não é necessário dominar conceitos financeiros complexos para se ter sucesso como investidor. O princípio de Pareto sugere que 80% de um dado resultado se deve a apenas a 20% dos esforços iniciais - no investimento esta regra aplica-se: com um pequeno esforço e estudo inciais consegue-se ganhar conhecimento suficiente para abrir o acesso a retornos substanciais. Frequentemente dedicar longas horas de estudos acrescenta pouco em termos de lucros - por vezes pode até levar a resultados piores.
Num artigo anteiror expliquei por que é importante investir.
Com este artigo pretendo explicar um dos conceitos fundamentais para o investimento a relação risco/retorno.
Risco e Retorno
Fundamentalmente, investir passa por aplicar o nosso dinheiro num instrumento que irá permitir gerar algum lucro. Isso pode ser feito de várias maneiras que falarei num próximo post. Contudo, um denominador comum para os instrumento financeiros é que, ao aplicarmos o nosso dinheiro, estamos a ceder a alguém (a contraparte) o direito de usar o nosso dinheiro durante um periodo de tempo. Como compensação, a contraparte paga uma recompensa por ter acesso a esse direito.
A contraparte pode ser alguém de confiança, que muito dificilmente irá falhar ao compromisso: nesse caso não exigimos um pagamento muito grande por ceder o direito do uso do dinheiro; contudo, pode ser alguém pouco confiavel (e que até nunca nos pague de volta) - aí exigiremos um pagamento mais substancial.
Se o risco é pequeno o retorno então também é pequeno; se o risco é maior o retorno potencial também é maior - é um princípio básico dos investimentos. Se querernos ter retornos mais substanciais então vamos ter que assumir algum risco - como por exemplo ao investir em ações; se por outro lado queremos ser defensivos então temos de aceitar retornos mais modestos - como acontece com depositos bancarios ou obrigações soberanas como falaremos noutro tópico.
Tipos de riscos
Se a relação risco/retorno parece clara, a definição do que é risco pode parecer mais confusa. Podemos falar de vários tipos de riscos e também de várias estratégias para lidar com eles.
1) Perder parte, todo ou mais do que o dinheiro investido.
Vamos ser claros, existem instrumentos financeiros que têm um grande potencial (e probabilidade) de levar a perdas substanciais, totais ou até maiores que o capital investido: opções, futuros e CFDs são os exemplos principais. Apesar de terem um papel relevante nos mercados financeiros, são instrumentos inadequados para a maioria dos pequenos investidores numa perspectiva de investimento a longo prazo. Solução para evitar perder mais do que o dinheiro investido: fugir destes instrumentos.
Para as ações, que são um instrumento muito útil e que explorarei noutro post, o risco máximo é perder 100% do dinheiro investido, nunca mais do que isso. Na verdade, este é um risco que só existe se aplicarmos todo o dinheiro numa única ação - por todos os ovos no mesmo cesto - pode correr bem mas também pode correr (muito) mal. A solução? Espalhar os ovos por várias cestas, ou seja comprar várias ações - diversificar - o que permite reduzir a probabilidade de perdas. É a melhor estratégia para reduzir o risco de perda irremediável de dinheiro.
2) Variações do valor do investimento / volatilidade
A volatilidade é o tipo de risco que mais frequentemente é destcado nos investimentos. Os instrumentos de risco (como as ações e obrigações) sofrem variações do preço consoante as condições do mercado. A volatilidade é algo valorizado sobretudo quando ocorre no sentido negativo - ninguém gosta de ver os seus investimentos perder valor. Por este motivo, instrumentos financeiros mais voláteis (como as ações) são considerados mais arriscados devido ao potencial de perda de valor - mesmo que este seja transitório. Contudo, é a volatilidade no sentido positivo que faz com que haja valorização dos investimentos. Dando tempo suficiente, num investimento diversificado, é a volatilidade que leva ao desenvolvimento de retornos positivos. A volatilidade é um risco mas é ao mesmo tempo uma condição necessária para se obter bons resultados em investimentos. Quanto mais tempo dermos ao nosso dinheiro para estar aplicado em instrumentos adequados e diversificados mais tempo existe para ultrapssar fases menos boas e alcançar os retornos esperados. Por poder ser preciso tempo para que os investimentos dêem frutos, é que se diz que apenas se deve aplicar dinheiro que não seja necessário em poucos anos.
É importante também dizer que, se tivermos dinheiro investido num instrumento e este desvalorizar, isto não significa uma perda irremediável - trata-se uma perda não realizada - é uma perda potencial que só se torna real quando vendemos o instumento - e que após se torna uma perda realizada. Se nos mantivermos investidos, e o investimento recuprar, foi como se nada tivesse acontecido.
Contudo devo salientar, que, apesar de a volatidade a curto prazo não ser muito importante quando se investe com um objetivo a longo prazo, passar por períodos de volatilidade significativa pode ser emocionalmente difícil de tolerar. No caso de investimento em ações é expectável que possam existir desvalorizações de 40-50% e que estas surjam de forma súbita e se devenvolvam no espaço de poucas semanas / meses. Apesar de racionalmente se saber que, matematicamente, a melhor opção é manter o investimento e aguentar os maus tempos, muitas vezes o desconforto leva a realizar vendas em alturas de grande desvalorização - algo a evitar ao máximo pois é a forma mais fácil de sabotar os retornos dos investimentos. Assim, quando não se consegue tolerar esta volatilidade, a melhor opção é alocar uma porção dos investimentos a instrumentos com baixa volatilidade, de modo a que nunca se venda numa altura de desvalorização.
Isto reduzirá o retorno do investimento mas será sempre uma melhor opção do que uma estratégia mais agressiva que não se consiga manter.
Os primeiros dois tipos de risco são provavelmente aqueles que estão na mente de quem pensa em começar a investir. Vou falar agora de outros três tipos de riscos que são igualmente importantes mas que, infelizmente, são frequentemente ignorados.
3) Risco / custo de oportunidade
Imaginemos que temos acesso a 500€. Temos agora a oportunidade de o investir durante 30 anos e temos que escolher o que fazer. Podemos ser defensivos e aplicar o dinheiro em depositos a prazo e obter um juro anual de 2%. Se reinvestirnos os juros (como foi discutido no episódio sobre juro composto) ao fim dos 30 anos teriamos acumulado 905,68€ - um ganho de 405,68€. Parece uma coisa positiva mas, a verdade é que ao escolher a estratégia conservadora estamos inconscientemente a pagar um custo - o dinherio que poderiamos ter ganho se tivessemos escolhido a oportunidade de invesitr num instrumento mais arriscado mas com mais retorno. Se tivessemos aplicado os mesmos 500€ num conjunto diversificado de ações com uma valorização de 8%/ano, no fim dos 30 anos teriamos 5.031,33€. Ao escolhemos a estratégia conservadora estamos inconscientemente a pagar um custo de 4.125,65€ pela oportunidade perdida de investir num instrumento mais rentável. Este é um custo invisível que persegue todos que mantêm dinheiro a longo prazo em instrumentos de baixo risco. Usar uma calculadora de juro composto pode ajudar a avaliar este custo para as nossas poupanças paradas.
4) Risco da inflação
Combater a inflação é um dos motivos principais para se investir. A realidade de os bens ficarem mais caros é algo profundamente integrado no funcionamento das economias e acredita-se ser benéfica quando é moderada. Contudo, não deixa de ser uma força que retira poder de compra aos seus euros: funciona como um retorno negativo. A única forma de a combater é investir em instrumentos que tenham um retorno acima da inflação. Ao não investirmos, ou investirmos em instrumentos que não conseguem bater a inflação, estamos a assumir um risco muitas vezes ignorado: o risco de não anularmos a inflação e portanto perder poder de compra. Por exemplo os depósitos a prazo, certificados de aforro e seguros PPR frequentemente não dão rendimento suficiente para anular o efeito da inflação, sobretudo quando são considerados os impostos. A solução passa por manter o dinherio em instrumentos que gerem retorno: apenas fundo de emergência e poupança a curto prazo em instrumentos de baixa volatidade/retorno; poupança de longo prazo em investimentos de maior volatilidade/retorno.
5) Risco de não atingir objetivos financeiros
Antes de se começar a investir deve-se definir qual o nosso objetivo. Isso pode ser algo tão simples como ter um complemento na reforma ou deixar algum dinheiro para os filhos. Mas também pode ser algo que exija mais planeamento como reforma antecipada (Retire early financial independence, ou FIRE). Independentemente de qual seja o objetivo é preciso perceber o quão agressivo o investimento precisa de ser.
Imaginemos que precisamos de ter um retorno médio de 7% para conseguir juntar dinherio suficiente para uma reforma antecipada daqui a 20 anos. Imaginemos agora que temos duas opções de investimento: opção A, um instrumento mais volatil, por vezes com desvalorizações de 40-50%, mas com rentabilidade média de 9%; opção B, um instrumento menos volátil, com desvalorizações máximas de 10-15%, mas com um retorno médio de 5%. Se formos pensar apenas numa perspectiva da flutuação / volatilidade dos valores do investimento, a opção A parece claramente a mais arriscada. Contudo, escolher a opção B, a que parece menos arriscada, faz com que não se consiga retorno suficiente para atingir o objetivo. Assim, se medimos o risco como a probabilidade de atigirmos os nossos objetivos financeiros a opção B é pior - a opção que parecia mais arriscada de início, a opção A, é na verdade a mais segura quando avaliamos o risco por este prisma.
Assim quando consideramos começar a investir é importante ter noção destes riscos: não apenas o risco de perder o dinheiro ou de ver os investimentos desvalorizar temporariamente - riscos que levariam a escolher instrumentos mais defensivos - mas também os custos que escolher estratégias mais conservadora podem acarretar - custo de oportunidade, risco de não bater a inflação e risco de não atingir os objetivos financeiros.
Em próximos episódios falarei dos vários instrumentos disponíveis para investimento e como planear o investimento tendo em conta o nosso perfil de risco e objetivos financeiros.
Até à próxima. Poupem, invistam e relaxem!

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