PPR vs ETF - qual a melhor opção para o investimento a longo prazo - Simulação

 



Qual é a melhor opção para o investimento a longo prazo em Portugal: PPR ou ETF? 


Como descrevi num artigo anterior, os PPR têm uma grande vantagem: os benefícios fiscais. Contudo, a meu ver, têm três grandes desvantagens: um histórico de rentabilidades mau, gestão ativa (para a maior parte) e comissões altas. Serão os benefícios fiscais dos PPR suficientes para compensar estas desvantagens? Vou tentar responder a essa pergunta com esta simulação: PPR vs ETF. 


Vamos primeiro definir os parâmetros da simulação:


a) Idade do investidor no início do investimento: 30 anos;

b) Duração do tempo de investimento / horizonte de investimento: 31 anos (até aos 61 anos);

c) Investimento inicial: 2.000€;

d) Reforços anuais: o valor necessário para maximizar a dedução em IRS: 2.000€ até aos 34 anos; 1.750€ dos 35 aos 50 anos; 1.500 dos 50 até aos 60 anos;

e) O investidor em PPR consegue obter o valor máximo de deduções em cada ano. Pode escolher reinvestir ou não o valor das deduções;

f) Aos 61 anos é resgatado todo o valor investido sendo pagos os impostos: 19,6% para o ETF e 8% para o PPR;

g) Assume-se que o investimento em ETF segue um índice mundialmente diversificado (como exemplo o ETF VWCE); assume-se uma rentabilidade anual de 8% (em linha com a rentabilidade histórica das ações no longo prazo). Ignoram-se comissões de compra;

h) Assume-se que o PPR investe 100% em ações, que as comissões correspondem a custos anuais de 1,5%; a rentabilidade corresponde a 6,5%. O pressuposto para esta decisão é que os fundos de gestão ativa (como são a maioria dos PPR) não supera os índices de referência e a sua rentabilidade pode ser considerada a do índice menos os custos associados ao fundo: 8%-1,5% = 6,5%.


Tendo em conta estes pressupostos vamos testar alguns cenários


CENÁRIO 1


O investidor A investe em ETF. Investe 2.000€ no primeiro ano e vai realizando reforços anuais de 2.000€ até aos 34, depois 1.750€ até aos 50 e por fim 1.500€ até aos 60. Ao longo do tempo investiu 53.000€. O valor final dos seus ETF é 256.326,86 € e após aplicação de impostos 216.474,80 €.  


CENÁRIO 2


O investidor B investe em PPR. Investe 2.000€ no primeiro ano e vai realizando reforços anuais de 2.000€ até aos 34, depois 1.750€ até aos 50 e por fim 1.500€ até aos 60. O investidor B reinveste os ganhos das deduções em IRS no seu PPR. Ao longo do tempo investiu 53.000€. O valor final do seu PPR é 218.657,40 € e após aplicação de impostos 206.220,81 € -> menos 10.253,99 € que o investimento em ETF


CENÁRIO 3 


O investidor C investe em PPR. Investe 2.000€ no primeiro ano e vai realizando reforços anuais de 2.000€ até aos 34, depois 1.750€ até aos 50 e por fim 1.500€ até aos 60. O investidor B não reinveste os ganhos das deduções em IRS no seu PPR. Ao longo do tempo investiu 53.000€. O valor final do seu PPR é 184.701,18 € e após aplicação de impostos 174.165,09 €. Aqui temos que acrescentar as deduções que não foram investidas (um total de 10.200,00 €), sendo o valor final de 184.365,09€. -> menos 32.109,71 € que o investimento em ETF.


Que conclusões tirar? Para investimentos a longo prazo (> 30 anos) a maior rentabilidade prevista dos ETF parece superar os PPR mesmo com os seus benefícios fiscais e mesmo quando as deduções são reinvestidas.  Contudo a vantagem dos ETF só começa a surgir após 16 anos de investimento, como se pode ver no gráfico abaixo. 




Que retorno teria que ter o nosso PPR hipotético para dar um resultado final (após impostos) semelhante ao ETF – sensivelmente 6,73% caso fossem reinvestidas as deduções e 7,06% caso não fossem.  


Realizamos adicionalmente simulações para casais considerando que as deduções em IRS de ambos podem ser consideradas (800€ em vez de 400€ aos 30 anos por exemplo). Assim os cenários foram


CENÁRIO 4


O casal A investe em ETF. Investem 4.000€ no primeiro ano e vão realizando reforços anuais de 4.000€ até aos 34, depois 3.500€ até aos 50 e por fim 3.000€ até aos 60. Ao longo do tempo investiu 106.000,00€. O valor final dos seus ETF é 512.653,72 € e após aplicação de impostos 432.949,59 €.  


CENÁRIO 5


O casal B investe em PPR. Investem 4.000€ no primeiro ano e vão realizando reforços anuais de 4.000€ até aos 34, depois 3.500€ até aos 50 e por fim 3.000€ até aos 60. O casal B reinveste os ganhos das deduções em IRS no seu PPR. Ao longo do tempo investiu 106.000,00€. O valor final do seu PPR é de 440.089,01 € e após aplicação de impostos 415.057,89 € -> menos 17.891,71 € que o investimento em ETF


CENÁRIO 6


O casal C investe em PPR. Investem 4.000€ no primeiro ano e vão realizando reforços anuais de 4.000€ até aos 34, depois 3.500€ até aos 50 e por fim 3.000€ até aos 60. O casal C não reinveste os ganhos das deduções em IRS no seu PPR. Ao longo do tempo investiu 106.000,00€. O valor final do seu PPR é de 369.402,37 € e após aplicação de impostos 348.330,18 €. Aqui temos que acrescentar as deduções que não foram investidas (um total de 21.200,00 €), sendo o valor final de 369.530,18 €-> menos 63.419,41 € que o investimento em ETF.


Os resultados acabam por ser semelhantes aos dos cenários individuais. Nota-se, contudo, uma maior diferença quando as deduções não são reinvestidas. O retorno que o nosso PPR hipotético teria que ter para dar um resultado final (após impostos) semelhante ao ETF – sensivelmente 6,70% caso fossem reinvestidas as deduções e 7,32% caso não fossem.


Avaliação dos resultados


Estas simulações foram desenhadas para maximizar o benefício fiscal dos PPR. Caso sejam investidos valores superiores aos valores necessários para obter as deduções máximas, os resultados para os PPR serão piores. Caso os investidores não consigam obter as deduções máximas, por terem outras deduções a competirem para o valor total de deduções à coleta, os resultados também serão piores. 


Nas simulações também assumimos que as rentabilidades dos PPR estarão em linha com as do ETF menos as comissões (neste exemplo - 1,5%). Contudo, é provável que este seja um cenário demasiado otimista. A título de exemplo, o PPR Save and Grow Founders desde a sua fundação tem uma rentabilidade anualizada 3,43% inferior ao seu índice de referência (10,83% vs 14,26%) segundo informações do site da Casa de Investimentos.  


Hoje em dia existem PPR que têm na sua composição ETF – têm, portanto, uma gestão passiva. Contudo, apresentam comissões significativamente superiores à dos ETF. Por exemplo o PPR Golden SGF ETF tem uma comissão de gestão anual de 1%. Embora este facto seja desfavorável, considerando que o PPR deverá ter uma rentabilidade em linha com os seus índices de referência, esta comissão de 1% será insuficiente para anular os benefícios das deduções, sobretudo quando estas são reinvestidas. Se surgirem novos PPR de estratégia passiva com investimento 100% de ações e com comissões < 1,3% poderemos aí ter uma alternativa viável aos ETF para a generalidade dos investidores.


Como conclusão final. 


Os ETF são provavelmente a melhor opção para o investimento a longo prazo. Para horizontes temporais < 16 anos os PPR poderão ser melhores, mas isso depende de que as deduções sejam maximizadas e reinvestidas, não sejam feitos reforços acima dos valores para obter as deduções máximas e os retornos sejam em linha com os índices de referência (menos as comissões). Por outro lado, para horizontes mais longos, para quem não consiga maximizar as deduções, para quem não reinveste as deduções ou caso os PPR tenham rentabilidades ainda piores que as referidas acima (o que é bastante provável tendo em conta o histórico) então o ETF é uma opção melhor. Os PPR de gestão passiva poderão tornar-se uma opção igual ou melhor que os ETF para a generalidade dos investidores desde que os seus custos anuais não ultrapassem 1,3% do capital investido.


Até à próxima! Não se esqueçam de poupar e investir de forma relaxada!


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